Mais um natal se anunciava, com ele o consumismo
desenfreado, a mídia cega com seus sonhos e a obrigação de estar feliz. Para o
pequeno Jonas essa epidemia não o acometera. Apesar do sonho de ter uma
bicicleta, o natal não significava muito. Uma família humilde, o pai
desempregado, não podia nutrir grandes esperanças.
Todos
os dias, no caminho da escola, um motivo lhe cobrava um gesto contemplador. A
bicicleta numa loja, agora envolta em luzes e fitas. A intensidade das luzes, o
brilho no olhar. Jonas quis ignorar, mas o canto dos olhos levou consigo aquele
sonho de metal.
Numa
noite contou ao pai, mesmo sabendo que isso não sairia do campo da intenção. O
pai, diante da sua impossibilidade, disse ao filho não se deve desistir de
sonhar, tudo tem um preço e não devemos deixar de acreditar no amanhã.
No
dia seguinte, Jonas não se deteve, colou a face na vitrine da loja e viu o
preço da bicicleta estampado com abatimento, R$ 300,00. Quando sua cegueira de
admiração cessou, alguém com aparência singular fez um sinal. O menino olhou
para traz pensando não ser com ele, então o velhinho barbudo de roupas
vermelhas insistiu no gesto. Atônito venceu o espanto e entrou. O bom velhinho perguntou se era esse o
presente que queria ganhar do papai noel.
- Meu pai está
desempregado, não pode me dar. Eu não acredito em papai Noel. Eu sei que você é
um homem com uma fantasia.
Então
o velhinho explicou se tratar de uma pessoa comum e nem mesmo tinha uma barriga
enorme. Continuou dizendo que é preciso lembrar que estamos comemorando o
nascimento do menino Jesus que nos deixou a mais importante das lições: A fé.
Então, qualquer um pode ser o papai Noel, esse é o espírito, o espírito do
natal.
Ao
chegar da escola o menino contou ao pai quanto custava a bicicleta. O pai não
conseguiu disfarçar seu descontentamento, o olhar o denunciara. Ele disse ao
filho lamentar por não poder dar-lhe presentes por estar por tanto tempo
desempregado. Para surpresa do pai, o filho segurando-o rosto e olhando-o nos
olhos, disse:
-
Pai, você não pode perder a sua fé. O pai sentiu uma energia positiva, tomou o
filho pela mão e convidou-o para ir até a loja. Pensou, se não pode comprar ao
menos pode compartilhar o sonho do filho.
No
caminho da loja, um senhor bem vestido levava o filho pela mão, bem a frente
dos dois. Algo numa banca de revistas tirou o senhor do seu itinerário. Com a
súbita distração, seu filho seguira sozinho em direção da estrada.
Um
som agudo, um grito, desespero. Tão logo o senhor se recupera da sua distração,
o pai de Jonas num ímpeto salvara o garoto com um mergulho mais rápido que a
freada. O pai correu e envolveu o filho com um abraço de rancor. O senhor
agradeceu repetidas vezes insistindo uma gratificação. O pai de Jonas apesar da
simplicidade manteve seu orgulho. Então o senhor fez uma sugestão de dar-lhe
todo o dinheiro que dispusesse na carteira. R$ 300,00.
Na
noite de natal uma família chega à casa de Jonas. Na rua dois meninos brincando
com suas bicicletas. Na sala uma conversa a sós, uma oferta de emprego. Mais
tarde Jonas aproximasse do pai que disfarça suas lágrimas. Então o garoto
segura-o no rosto, olha nos seus olhos e diz:
-
Pai, esse é o espírito do natal.
Edson
Simon
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